RODA VIVA (1968)

A peça “Roda Viva”, escrita por Chico Buarque e dirigida por José Celso Martinez Corrêa, estreou em 17 de janeiro de 1968 e rapidamente se tornou alvo do rigor da censura devido à sua crítica direta à indústria do entretenimento, à idolatria e à alienação cultural. Como uma comédia musical, a obra combinava linguagem coloquial, sátiras e elementos visuais impactantes para questionar os valores da sociedade de consumo e o papel da mídia em moldar ídolos e influenciar a opinião pública. Essa abordagem crítica e irreverente colocou a peça sob constante vigilância e intervenção das autoridades.

No primeiro parecer, os censores analisaram o conteúdo da peça e expressaram preocupação com o uso de linguagem coloquial e com o tom subversivo das críticas presentes no enredo. A peça foi considerada provocativa por sua representação satírica da idolatria cultural e por questionar a manipulação do público pela mídia, temas delicados no contexto político de 1968. Além disso, os censores destacaram o uso de expressões de duplo sentido e falas que poderiam ser interpretadas como referências indiretas a figuras públicas e instituições, algo visto como uma afronta ao governo e à moralidade da época.

No segundo parecer, foi solicitada a remoção de cenas específicas e o corte de passagens que continham vocabulário vulgar ou sátiras consideradas ofensivas. Diálogos com expressões consideradas impróprias foram listados para modificação, com o objetivo de amenizar o impacto da peça sobre o público. A abordagem crítica de “Roda Viva” em relação ao consumo desenfreado, à exploração midiática de ídolos e à alienação cultural foi interpretada como uma mensagem potencialmente subversiva, que poderia instigar reflexões indesejadas em um período de crescente repressão política.

No parecer final, os censores condicionaram a liberação da peça à implementação de ajustes adicionais. Foi reforçada a necessidade de que os cortes indicados fossem seguidos rigorosamente, especialmente em cenas que, segundo os censores, poderiam ser interpretadas como incitação contra o governo ou que confrontavam valores tradicionais. A peça foi, então, liberada para uma audiência restrita, com a classificação etária adequada e sob a vigilância de representantes das autoridades.

O processo de censura revela a tensão latente entre a liberdade artística e os limites ideológicos impostos pelo regime militar. “Roda Viva” confrontava o padrão moral oficial ao retratar com ironia e crítica a relação entre mídia, cultura de massa e idolatria. A direção de José Celso Martinez Corrêa, conhecida por sua abordagem vanguardista e pela experimentação estética, amplificava o caráter subversivo da obra, o que intensificou a repressão sobre a montagem.

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