…Em Moeda Corrente do País

A peça “Em Moeda Corrente do País” foi submetida à censura em várias ocasiões devido ao seu conteúdo que aborda questões sociais e políticas, especialmente no contexto de críticas ao sistema econômico e à estrutura familiar. O enredo foca na vida de Guimarães, um funcionário público, e suas interações com sua esposa Floripes e o cunhado Gervásio. A peça é uma sátira política que expõe os dilemas morais e éticos dos personagens em relação ao dinheiro, honestidade e corrupção.

O marido, Guimarães, é pressionado a aceitar um suborno para não denunciar uma fraude dentro do sistema ferroviário. A trama gira em torno da luta de Guimarães entre manter sua integridade ou ceder às pressões financeiras e familiares. A peça critica a hipocrisia e as tensões entre os valores da moralidade pessoal e as necessidades financeiras em uma sociedade marcada pela corrupção.

Processos de Censura e Classificação:

O processo de censura de “Em Moeda Corrente do País” envolveu diversas etapas de revisão, com ênfase na classificação etária e nas revisões necessárias para garantir que o conteúdo estivesse em conformidade com os padrões de moralidade do período da ditadura militar no Brasil. A peça foi inicialmente classificada como imprópria para menores de 14 anos, sendo recomendada a supervisão de ensaios gerais para garantir que os elementos de crítica política e social não fossem excessivamente explícitos ou subversivos.

Exigências de Corte: Em vários pontos, o texto teve que ser ajustado para remover ou suavizar diálogos e referências que pudessem ser interpretadas como uma crítica direta ao governo e às instituições sociais da época. As discussões sobre corrupção, suborno e a pressão pela conformidade com normas éticas foram julgadas como perigosas, considerando o contexto de censura que vigorava durante o regime militar.

Relatórios de Acompanhamento: Durante o processo de avaliação, foi solicitado que o “script” da peça fosse submetido ao exame de censura para garantir que as mudanças fossem implementadas corretamente. A peça também foi acompanhada em ensaios para verificar se os ajustes foram seguidos conforme estipulado.

Pareceres dos Censores:

Os censores reconheceram o valor dramático da peça, mas também expressaram preocupações sobre o potencial subversivo de suas mensagens. A peça, embora uma sátira, foi vista como um convite ao questionamento do sistema político e econômico, algo que poderia incitar o público a pensar de forma crítica sobre o papel do governo e da sociedade.

O parecer final indicou que a peça deveria ser classificada como imprópria para menores de 14 anos, com a recomendação de que fosse acompanhada de uma supervisão rigorosa durante os ensaios. A peça foi liberada com restrições, sendo permitida apenas para públicos mais maduros e sob vigilância.

Conclusão:

A peça “Em Moeda Corrente do País” foi aprovada para exibição, mas com diversas restrições. O exame de censura exigiu ajustes no texto para garantir que não houvesse interpretações subversivas ou políticas que pudessem ser consideradas ameaçadoras ao regime da ditadura militar. A classificação de imprópria para menores de 14 anos reflete o temor das autoridades em relação ao conteúdo da peça, que, ao discutir questões como corrupção e pressão social, poderia ter um impacto no público jovem e nos comportamentos futuros.

Esta análise destaca como a censura da época procurava controlar e limitar a expressão de ideias que pudessem ser vistas como desafiadoras ou críticas ao regime, especialmente em relação a temas sensíveis como a corrupção e a moralidade pública. O controle sobre as produções culturais era uma ferramenta utilizada para manter a ordem e suprimir qualquer movimento que pudesse desafiar a autoridade estabelecida

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