A peça “Pic Nic no Fronte”, de Fernando Arrabal, traduzida para o português por Jacqueline Laurence, é uma comédia absurda que utiliza o humor e a sátira para criticar a guerra e a alienação humana diante do conflito. Com um enredo que mistura o banal e o trágico, a peça retrata o soldado Zapo, surpreendido pela visita de seus pais no campo de batalha. Tentando trazer normalidade ao caos, os pais organizam um piquenique, onde até mesmo o soldado inimigo Zepo se junta para compartilhar comida e diálogos triviais, ignorando a brutalidade ao redor. O desfecho trágico, com a morte de todos por uma rajada de balas, reforça a crítica ao absurdo e à futilidade da guerra.
A peça foi analisada pela censura devido ao seu teor crítico e à abordagem humorística de um tema tão sério quanto a guerra. Apesar disso, os censores interpretaram o texto como uma representação humorística e absurda, que não fazia críticas diretas a contextos políticos específicos ou ao regime vigente. Esse posicionamento, aliado ao tom surreal da narrativa, contribuiu para que a peça fosse considerada inofensiva do ponto de vista ideológico.
Os censores destacaram o uso do humor como principal recurso para tratar do militarismo e da guerra, classificando o texto como uma “futilidade infantilizada”. Embora reconhecessem a crítica implícita à lógica militar e à alienação em tempos de conflito, concluíram que a peça não comprometia os padrões morais da sociedade nem incentivava reflexões subversivas.
Diferentemente de muitas obras submetidas ao crivo da censura no período da ditadura militar, “Pic Nic no Fronte” foi aprovada sem cortes, recebendo uma classificação etária livre. Os censores argumentaram que, embora a peça apresentasse elementos de humor negro e sátira, seu tom lúdico e surreal tornava o conteúdo adequado para todas as idades. A narrativa, com seu enredo fictício e absurdo, foi vista como incapaz de provocar reações políticas ou morais indesejadas.
A peça foi descrita como um exemplo de entretenimento leve e irreverente, onde o foco estava no absurdo da situação, e não em críticas diretas às instituições militares ou políticas. A interação entre os personagens e a banalização da guerra foram interpretadas como elementos que poderiam ser vistos de forma humorística, sem impacto significativo na audiência.
O laudo final da censura aprovou “Pic Nic no Fronte” como uma obra leve e inofensiva, ressaltando seu caráter fictício e surreal como justificativa para a liberação. A peça foi liberada para exibição pública em qualquer contexto, sem restrições, com os censores enfatizando que seu humor absurdo e crítica implícita à guerra não representavam riscos à ordem social ou política.
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