A peça “Os Pais Abstratos”, escrita por Pedro Bloch, foi submetida ao Serviço de Censura de Diversões Públicas (SCDP) em 1968 para análise e aprovação. Embora tenha sido aprovada para exibição, recebeu a classificação etária de imprópria para menores de 18 anos, devido aos seus temas familiares sensíveis e críticas indiretas à estrutura social e ao conceito de paternidade. A narrativa cômica e reflexiva, que explora as dinâmicas entre pais e filhos, tornou-se alvo de restrições por levantar questionamentos ao modelo de autoridade tradicional.
“Os Pais Abstratos” aborda a relação entre pais e filhos com um tom de humor satírico, que questiona a rigidez e o autoritarismo parental. Os censores interpretaram algumas falas e situações como desafios à obediência e à disciplina, valores que eram amplamente defendidos no contexto da ditadura militar. Embora a crítica fosse apresentada de maneira sutil, ela foi vista como um risco à ordem moral, especialmente por sua capacidade de estimular reflexões críticas sobre o papel da autoridade dentro da estrutura familiar.
Durante a análise, os censores exigiram cortes em diálogos específicos onde as figuras parentais eram satirizadas ou ridicularizadas. Cenas que colocavam em xeque a legitimidade da autoridade dos pais foram especialmente monitoradas, com o objetivo de minimizar qualquer potencial impacto que pudesse encorajar a contestação de modelos familiares tradicionais.
Os ensaios da peça foram submetidos a uma supervisão rigorosa, com a presença de censores que garantiram que todas as alterações solicitadas fossem implementadas. Essa vigilância foi considerada essencial para evitar que as apresentações fugissem do controle ideológico imposto pela censura.
A peça precisou passar por renovações anuais de certificado, com cada renovação reafirmando a classificação etária de maiores de 18 anos. Essas restrições continuaram em apresentações realizadas fora do Rio de Janeiro, como em São Paulo e outras capitais. A Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT) desempenhou um papel ativo no acompanhamento das apresentações, garantindo que os direitos autorais fossem respeitados e que as produções se adequassem às normas censórias.
Pedro Bloch defendeu sua obra, afirmando que ela tinha uma abordagem humorística e reflexiva, destinada a provocar risos e pensamentos, e não a subverter valores familiares. Ele argumentou que a peça explorava o cotidiano de maneira leve e acessível, sem intenções de gerar conflitos ideológicos. Apesar disso, as autoridades censórias mantiveram a classificação restritiva, justificando que o conteúdo crítico da obra poderia influenciar negativamente o público jovem, ao sugerir uma visão menos hierárquica e mais questionadora da estrutura familiar.
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