A peça “Os Inimigos Não Mandam Flores”, de Pedro Bloch, foi submetida ao Serviço de Censura de Diversões Públicas (SCDP) em 1969, pelo Grupo Experimental Riberopretano de Amadores (GERA), buscando a certificação necessária para sua apresentação em Ribeirão Preto, São Paulo. Apesar de aprovada, a obra enfrentou restrições devido à sua abordagem cômica e crítica de temas relacionados à vida conjugal, considerados inadequados para o público jovem pela censura.
A solicitação inicial visava garantir a conformidade da peça com os regulamentos de censura, permitindo sua exibição pública. A obra foi submetida como uma comédia de três atos, com narrativa focada no cotidiano de um casal e nas dinâmicas de poder, controle e manipulação em um relacionamento. A peça explora falhas humanas de forma cômica, mas também carrega uma crítica social subjacente que atraiu a atenção dos censores.
A peça foi aprovada com restrições etárias, sendo considerada imprópria para menores de 18 anos. A justificativa para a classificação estava nos diálogos e nas temáticas abordadas, que, embora cômicas, envolviam reflexões sobre moralidade, relacionamento conjugal e críticas sutis à sociedade. A censura argumentou que, por seu humor ácido e irônico, a obra poderia ser mal interpretada por públicos mais jovens.
Durante o processo de revisão, a censura solicitou cortes e alterações em trechos específicos que envolviam críticas a figuras de autoridade ou temas sensíveis como corrupção e manipulação. Algumas cenas foram consideradas moralmente inadequadas, enquanto outras foram avaliadas como potencialmente provocativas, com risco de questionar os valores sociais vigentes.
Os ensaios foram monitorados por censores, que acompanharam a implementação das modificações exigidas. A supervisão também tinha o objetivo de garantir que nenhuma alteração no texto aprovado fosse realizada durante as apresentações.
A peça passou por renovações anuais de certificação, necessárias para suas apresentações em diferentes cidades. Essas revisões incluíam a análise de possíveis alterações no conteúdo ou no texto original. A SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais) desempenhou um papel ativo no acompanhamento das renovações, garantindo a conformidade com as normas censórias e o respeito aos direitos autorais.
Embora classificada como uma comédia, a peça foi descrita pelos censores como uma obra que abordava críticas sociais e interpessoais de maneira que poderia desafiar os valores tradicionais. O enredo, centrado nos conflitos de um casal, expõe dinâmicas de manipulação e poder, com personagens que frequentemente criticam e exploram as falhas uns dos outros.
Os censores observaram que, embora o público adulto pudesse interpretar o conteúdo como reflexão cômica, os temas poderiam ser considerados moralmente questionáveis, justificando as restrições etárias e o monitoramento contínuo.
Pedro Bloch defendeu a peça como uma sátira despretensiosa, com o objetivo de entreter e estimular reflexões leves sobre o comportamento humano. Ele argumentou que a obra não tinha intenção de subverter valores sociais ou morais. Contudo, as autoridades censórias mantiveram as restrições, afirmando que o humor ácido e os temas abordados demandavam maturidade para uma compreensão adequada.
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