O EVANGELHO SEGUNDO ZEBEDEU (1968)

Em 1968, a peça “O Evangelho Segundo Zebedeu” foi submetida ao Serviço de Censura Federal para avaliação e recebeu um certificado inicial com validade até 1969, porém com a restrição etária para menores de 18 anos. Essa decisão foi motivada pelo conteúdo histórico da peça, que abordava a figura de Antônio Conselheiro e os conflitos da Guerra de Canudos, além de críticas implícitas às autoridades coloniais e religiosas. Os censores também identificaram referências políticas que foram interpretadas como subversivas, despertando preocupações sobre o impacto da obra no público.

Em 1970, uma solicitação de renovação do certificado foi apresentada, acompanhada da garantia de que todos os cortes exigidos haviam sido realizados no texto original. Os trechos removidos incluíam diálogos com críticas religiosas e políticas, visando amenizar o teor questionador da peça. A censura destacou que essas modificações eram necessárias para eliminar discursos que poderiam inspirar reflexões sobre resistência e liberdade, temas considerados sensíveis no contexto da ditadura militar.

O parecer técnico elaborado após a revisão destacou que algumas cenas foram modificadas para reduzir a presença de discursos críticos, especialmente aqueles relacionados às figuras religiosas e ao impacto histórico-político dos eventos de Canudos. Houve também uma atenção especial à linguagem utilizada na peça, com a remoção de palavrões e expressões ofensivas que poderiam ser consideradas inadequadas para o público. Até mesmo a música foi ajustada para suavizar qualquer conotação crítica ou provocativa, reforçando o controle sobre a mensagem transmitida pela obra.

No primeiro parecer, os censores avaliaram a peça com foco em seu conteúdo histórico e social. A narrativa retrata as experiências dos seguidores de Antônio Conselheiro, que buscavam uma vida mais justa e solidária, enfrentando a opressão das forças coloniais. Esse aspecto foi interpretado como uma representação de resistência contra a autoridade, despertando o receio dos censores quanto ao impacto da obra no público. A crítica às estruturas de poder foi observada com cautela, especialmente nas falas que questionavam a autoridade política e religiosa. Além disso, a linguagem acessível e o uso de simbolismos foram destacados como fatores que poderiam facilitar a identificação do público com a causa dos personagens.

O parecer recomendou a imposição de uma restrição etária como forma de mitigar o impacto da peça. Os censores argumentaram que apenas adultos teriam maturidade suficiente para analisar as nuances críticas do texto sem sofrer influência direta. Como condição para a liberação, foram solicitados cortes específicos em passagens consideradas mais sensíveis, com o objetivo de equilibrar a expressão artística com as normas de controle político vigentes na época.

Após as modificações, o certificado foi renovado em março de 1970, autorizando a exibição da peça em território nacional. Contudo, a liberação ficou condicionada à apresentação do script revisado e carimbado, assegurando que as alterações exigidas fossem mantidas. A restrição para menores de 18 anos foi reafirmada, refletindo o receio persistente dos censores em relação ao potencial crítico e mobilizador do conteúdo.

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